Divórcio e Novo Casamento
No meio cristão existem alguns chavões simplistas sobre o divórcio e novo casamento. Essas ideias superficiais acabam negligenciando uma discussão mais profunda sobre o tema.
Por isso nesse artigo irei abordar esses clichês.
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Clichê sobre CULPA DA INFELICIDADE ou DIVÓRCIO
"Quando um casamento acaba a culpa é de ambos."
Isso pode ser verdade em muitos casos, mas nem sempre. Vou dar exemplos:
PODE SER CULPA DO MARIDO:
· Há mulheres que divorciam porque o marido não comparece e depois que divorcia ele assume homossexualidade
· Há mulheres que divorciam porque o marido espanca
· Há mulheres que divorciam porque o marido vive traindo mesmo tendo regular sexo em casa
· Há mulheres que divorciam porque descobrem que o marido é criminoso
· Há mulheres que foram abandonadas pelo marido porque ele foi morar com outro homem
· Há mulheres que divorciam porque pegaram o marido abusando sexualmente das filhas
PODE SER CULPA DO ESPOSA:
· Há mulheres que divorciam por causa de mágoas antigas mesmo o marido se convertendo e se tornando ótima pessoa a mulher não perdoa o passado e resolve sair de casa (acompanhei casos assim)
· Há homens que são traídos mesmo sendo bons maridos (mulheres traem tanto quanto os homens!)
· Há homens que divorciam porque a mulher não queria sexo devido um abuso sexual na infância (muitos são resolvidos com cura interior, e quando mesmo tentando por anos não é resolvido o que o cara faz? É muito fácil dizer pra outra pessoa: continua o resto da vida sem sexo! Você conseguiria?)
· Há homens que foram abandonados pela esposa porque ela foi morar com outra mulher
Sempre deve-se lutar até o fim pela restauração de casamentos, mas às vezes isso não acontece! E não dá para dizer que ambos são culpados. Às vezes uma parte luta intensamente e mesmo assim o adúltero não quer restaurar. Biblicamente, a pessoa traída ou abandonada está livre para um novo casamento, especialmente depois de tentar a restauração.
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Clichê sobre SEGUNDO CASAMENTO
"Pode separar, mas não pode casar de novo."
Todas as igrejas cristãs (até mesmo os católicos) aceitam um segundo casamento em caso de viuvez. E a igreja católica tem regras no seu direito canônico para anulação (nulidade) de casamentos.
No cristianismo essa questão costuma ser classificada em 3 grupos:
1) Há igrejas que fazem 2º casamento em qualquer situação.
2) Há igrejas que fazem 2º casamento apenas nos casos de divórcio lítico (pessoa sofreu adultério, etc).
3) Há igrejas que não fazem 2º casamento em hipótese alguma.
Para aprofundar a discussão é preciso distinguir os 2 tipos de divórcio:
DIVÓRCIO LÍCITO (NÃO-PECAMINOSO)
A maioria dos protestantes concorda que se a pessoa foi traída ou abandonada está livre para se divorciar sem que isso seja pecado (Mt 19.9; 1Cor 7.10-15).
Muitos pastores incluem aqui outras situações: mulheres vítimas de violência doméstica, maridos que afundam nas drogas, etc. Esses maridos estariam quebrando os votos de proteção e provisão.
Os que são contra o 2º casamento costumam dizer que a pessoa pode se separar, mas não pode se casar de novo.
Em linhas gerais, todos concordam que existe divórcio lícito. A discordância é sobre a possibilidade do 2º casamento. A maioria dos protestantes crê que a pessoa traída pode casar-se novamente. E alguns enxergam outras situações para divórcio lícito.
DIVÓRCIO ILÍTICO (PECAMINOSO)
Se a pessoa divorciou por motivos banais isso é pecado! E a pessoa é chamada ao arrependimento. Nisso todos os cristãos concordam.
A divergência novamente é sobre a possibilidade do 2º casamento.
1)
A
pessoa que se divorciou por motivos banais (incompatibilidade, tédio, etc) deve se arrepender e restaurar o
casamento. Mas às vezes a pessoa que saiu de casa e pediu divórcio se arrependeu,
porém a outra parte não quer voltar. Nesses casos
em que houve arrependimento por parte de quem saiu de casa, mas não foi
possível restaurar, creio que essa pessoa está livre para se casar novamente. Afinal, apesar de ter pecado ao sair de casa,
houve arrependimento!
2) No caso da pessoa que adulterou e foi morar com outra pessoa certamente isso é pecado. O adúltero deve se arrepender e restaurar o casamento. E isso muitas vezes acontece, especialmente quando o divórcio é recente.
Mas há adúlteros que depois de um tempo se arrependeram, mas quando foram tentar restaurar o casamento a parte traída não quis, e em alguns casos já estava em outro relacionamento.
Nesses casos em que houve arrependimento por parte do adúltero, mas não é possível restaurar, creio que o adúltero está livre para se casar novamente. Deus perdoa o pecado de adultério. O único pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo.
Se o adúltero se arrependeu, ele está perdoado por Deus. Alguns dizem que o adúltero arrependido deve ficar o resto da vida sozinho se a 1ª esposa não quer voltar. Não há nada na Bíblia que sustente essa visão.
Veja: se a pessoa roubou um objeto, e se arrependeu, ela devolve o objeto. Mas quando falamos de pessoas é diferente pois a restauração depende de vários fatores.
Quando há arrependimento verdadeiro, a pessoa primeiro irá tentar restaurar seu casamento, mas se isso não for mais possível, está livre para casar-se com outro.
Obs.: Nessas questões de 2o casamento gosto muito da visão do Pr Coty no livro "A Lei, a Moral e o Divórcio". Recomendo a leitura.
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Clichê sobre SEXO e FIDELIDADE
"Quando alguém trai é porque o parceiro foi negligente."
"Se fizer sexo regularmente o marido não busca fora."
Deixar o homem sem sexo realmente é arriscado, mas satisfazer o cônjuge não garante fidelidade.
Há mulheres que fazem sexo regular, o marido vive pulando a cerca e elas ainda se culpam "porque meu marido busca fora?"
Infidelidade é problema de caráter e não apenas hormonal!!
É como aquela tese de esquerda: "a pessoa rouba porque tá precisando!" sendo que na verdade temos gente rica roubando frequentemente (políticos, empresários, etc).
Ser honesto é questão de caráter independente do saldo na conta bancária. O mesmo vale para fidelidade conjugal!
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Clichê sobre FELICIDADE NO CASAMENTO
“Se você for um bom marido/esposa e falar a linguagem de amor do cônjuge a felicidade virá. O amor tudo vence!”
Isso é verdade na maioria dos casos, mas às vezes pode demorar bastante ou nunca chegar a felicidade no casamento.
A Bíblia traz ótimos conselhos para o casamento e que funcionam na vasta maioria das vezes quando praticados. Mas a felicidade num relacionamento depende da cooperação de ambos – se um sabotar já é suficiente para desandar.
Um cônjuge pode lutar pelo seu casamento, e isso funcionará na maioria das vezes, mas sempre há o livre arbítrio do outro.
É verdade que o amor tudo suporta, mas nem sempre isso se traduz em felicidade. É verdade que o amor tende a derrubar as barreiras (frieza) do outro lado, mas nem sempre isso acontece.
Há casos em que uma das partes não aceita ajuda, não quer mudar, não quer lutar pelo casamento e recusa o amor vindo do outro.
· Há mulheres amargas que chegava a dar dó do marido.
· Há homens que humilham a esposa frequentemente e elas suportam isso.
· Seguem casados, porém, infelizes.
Infelicidade não é motivo para divórcio. Nesses casos creio que a obediência a Deus vem antes da felicidade.
ð O melhor caminho para quem está infeliz é zerar as expectativas, ignorar todas as ofensas ou indiferença, e continuar praticando o amor na esperança de que um dia as coisas mudem.
ð Ao conviver com uma pessoa amarga é certo que o casamento não será uma fonte de alegria. A pessoa precisará buscar alegria em Deus e nas demais coisas boas da vida (olhar para as bênçãos).
Um cristão infeliz crê que as coisas podem mudar e sabe que o casamento vai além da busca da felicidade pessoal.
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Clichê sobre MEMBRESIA NA IGREJA
“Basta casarem no religioso que está tudo certo para se membrar”
É comum vermos nas igrejas pessoas que são membros mesmo o casamento estando fora dos padrões bíblicos. Essa pessoa pode frequentar a igreja, mas membrar-se ou liderar somente após ajustar seu casamento.
Soube de uma igreja em que nem mesmo os pastores eram casados no civil (só no religioso)!!
Não faz sentido receber como membro uma pessoa que não está casada dentro dos padrões bíblicos, e isso envolve várias coisas como civil, religioso, coabitação, etc. Para conhecer mais sobre o padrão cristão de casamento clique aqui.
E se um pastor alega que a pessoa de 2ª aliança está num “casamento pecaminoso” logo não faz sentido recebê-la como membro da igreja. É uma questão de coerência.