quinta-feira, 14 de maio de 2009

Dom de Línguas no Culto - Análise de 1Cor 14

Dom de línguas no Culto
Há uma falsa idéia (em alguns setores do meio evangélico) que diz que devemos evitar o uso dos dons espirituais no culto para não assustar os incrédulos...
Leia esse artigo:
Linguas_sem_Interpretacao_2
Nele faço uma análise detalhada de 1 Coríntios 14.

8 comentários:

Clebio Lima disse...

Amado irmão,

Gostei muito de sua análise do capítulo em apreço. Essa é, na verdade, a visão clássica do pentecostalismo sobre este assunto tão polêmico que infelizmente tem sido distorcido por meras filosofias desprovidas de experiências no uso dos dons do Espírito. Seu blogue está na minha lista de favoritos.

Em Cristo,

Clébio Lima de Freitas
clebiolima.blogspot.com

Cleber disse...

Paz amado!
Seja sempre bem vindo!

Pr Cleber.

Freitas (ou Alemão) disse...

Pr. Cleber, a paz de Cristo!

Sou de uma igreja pentedostal que, neste assunto, pelo que percebi, tem a prática igual a que o senhor pastorea, isto é, várias pessoas falam no culto em línguas ao mesmo tempo. Todavia, 1 Coríntios 14 foi um texto que sempre me incomodou. Li todo o seu artigo,mas, ainda assim não me convenci. A meu ver, é uma saída politicamente correta, que explica a nossa prática, mas, ainda assim, penso não ser a intenção de Paulo. Por isso, gostaria de, respeitosamente, lhe mostrar meus questionamentos, visando justamente crescer e mudar se necessário.

Em minha opinião, o sr. não foi feliz em pegar os textos de Atos e contrastar com 1 Co 14. Os "contextos" são diferentes. Para mim, todo a explicação de 1 Co 14 o sr. tentou forçar para encaixar com os textos de atos, que, conforme disse, estão em contextos diferentes. Em Atos 10 e 19 não estamos diante de uma "reunião" de crentes numa igreja, num culto regular. Concordo que no primeiro século não tínhamos templo, mas os crentes se reunião em casas para cultuar a Deus, e estas reuniões eram chamadas de "igreja" ou "Ekklésian" (assembléia de pessoas, como o sr. mesmo explicou), palavra usada por Paulo em 1 Co 14. Paulo está escrevendo diretrizes para estas reuniões, que não é o caso dos textos de Atos citados. Atos capítulo 2, então, acho que é totalmente diferente o contexto com 1 Co 14, e lá os de fora "entendiam" o que se falava.

Agora, me detenho a dizer, novamente, porque não concordo que 1 Co 14 a questão seja falar em línguas "ao público", somente. Como é de meu costume, vou enumerar as razões:

1. As línguas estranhas são dirigidas a "DEUS" (1 Co 14:2). Paulo é muito categórico. Ele diz "não fala aos homens". Quem fala em línguas não está falando a homens. A pessoa fala a Deus em "mistérios". Nem ela própria compreende, o espírito ora, mas a mente fica infrutífera (1 Co 14:14); doutro modo não haveria razão de orar para pedir interpretação (1 Co 14:13). Em 1 Co 14:14-15, Paulo fala que "oramos" ou "cantamos" a Deus em língua. Falar em línguas estranhas é orar ou cantar a Deus em sílabas desconhecidas, não compreendidas pelo locutor. Nesta oração ou cãntico ele só está sendo edificado.

Continua...

Freitas (ou Alemão) disse...

2. Quando Paulo diz que a igreja é edificada com a interpretação, não sugere que seja uma "mensagem em língua estranha". Absolutamente não concordo com isso. Não existe. O sr. faz a seguinte diferenciação: "Oração em língua, pessoal, não precisa de intrepretação - Mensagem em língua, é publica e precisa de interpretação". Em suas conclusões ele disse que adorar em língua é diferente de entregar uma mensagem em língua. Onde o sr. viu isto em 1 Co 14? Entenda, eu estou querendo entender. Não estou provocando. A meu ver, isto é confundir "profecia" com "interpretação da lingua". Quando se interpreta uma língua, se interpreta a oração ou louvor de uma pessoa a Deus. Como Paulo diz em 1 Co 14:16-17, quando a interpretação deste louvor a Deus, ou desta ação de graças, as pessoas podem dizer "Amém". Então, é impossível que 1 Co 14 o que esteja em questão é língua dirigida ao público, porque ela nunca é dirigida ao público, no sentido de ser uma mensagem para o público. É sempre para Deus.

3. Em 1 Co 14:20-25 Paulo mostra que falar em línguas audivelmente na igreja, sem interpretação, é agir como menino. Menino que, quando ganha um brinquedo novo quer mostrar para todo mundo. Eu sei que muitas pessoas falam na igreja em línguas estranhas, audivelmente, por não terem instrução. Por terem sempre aprendido assim. Não estou censurando-as. Sei que o Espírito pode estar agindo e está na maioria dos casos. A ação é divina, a reação é humana. Está reação só muda se as pessoas começarem a ser ensinadas.

4. No versículo 27, Paulo diz "Se alguém fala em língua". E não "Se alguém fala em língua a outra pessoa". No 28 ele diz: "Se não houver interprete fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus". Paulo está orientado sobre um culto inteligível. É nisso que acredito. O apóstolo não proíbe falar em línguas na igreja, não acho que este dom é para ser usado como pijama, só em casa, mas, deve-se respeitar a ordem do texto. Na igreja, a pessoa deve falar consigo mesmo e com Deus.

5. Acho que é muito séria a interpretação deste capítulo. Paulo diz que suas prescrições são mandamentos do "Senhor". Chega a dizer que quem ignora-os, será ignorado por ele. É por isso, meu irmão, que tenho medo de interpretações que fogem do que o texto está dizendo. Este texto está ligado com a prática da igreja. Interpretá-lo errado é agir errado na igreja.

Tenho medo de colocar camisa de força num texto para fazê-lo dizer o que eu quero que ele diga, simplesmente para validar uma prática da instituição. Acho que você também. Vamos continuar estudando e pedindo a Deus que nos ajude. Que abra os nosso olhos para a verdade. Inclusive os meus, se tiver interpretando o texto usando meus pressupostos, e estes estuverem equivocados. Só quero que saiba que não estou defendendo a prática da minha igreja, que nasci e congrego até hoje, pois, pelo que li, nesta questão ambas igrejas - a minha e a tua - são iguais.

Um forte abraço.

Freitas (ou Alemão).

Cleber disse...

Paz Freitas!
Primeiramente obrigado pelo tom respeitoso do seu comentário.
É sempre bom encontrar irmãos que vivem o fruto do Espírito!

Manão,
em geral dizem que em 1Co14 o foco de Paulo era o cuidado com os incrédulos.
Mas veja que em Atos 2 havia pelo menos 3.000 incrédulos presentes!!

Se o dom de línguas assustasse como alguns dizem o ES não faria o que fez em Atos 2.
Alguns alegam: "mas em Atos 2 eram idiomas humanos"!
Isso é relativo se olharmos para todo o contexto.

Qual foi a manifestação em Atos 2?
Línguas estranhas ou audição miraculosa?
Muitos reformados (e hoje até alguns pentecostais influenciados) têm dito que em Atos 2 houve audição miraculosa.
Ou seja, os apóstolos estavam falando um único idioma e cada pessoa entendia no seu idioma pátrio.

Mas não é isso que o texto diz:
Atos:2:4: E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a FALAR NOUTRAS LÍNGUAS, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

O texto diz que os 120 discípulos falaram em diversas línguas.
Isso significa que cada discípulo falou num idioma diferente, e talvez até mais de um idioma.
E significa também que cada ouvinte ouviu seu idioma ser falado, mas também ouviu outros idiomas serem falados, os quais ele não entendia.
Essa percepção escapa de algumas pessoas. Por exemplo: um persa que estivesse presente ouviu um discípulo falar em persa e ouviu outros discípulos falando em vários outros idiomas que ele não entendia.

Se as línguas assustassem, teríamos aqui um caso bem concreto de "abuso" do dom de línguas, pois os incrédulos estavam ouvindo línguas conhecidas e tbm línguas desconhecidas!

O curioso em Atos2 é que as línguas desconhecidas não assustaram ou espantaram as pessoas.
Alguns ficaram surpresos, mas não há nada que indique que o que aconteceu em Atos 2 foi errado.
E olha que gerou algumas reações como dizer que estavam bêbados.

Tanto Atos 2 como 1Co 14 foram ocasiões onde a igreja estava reunida, e havia incrédulos presentes.
O grande ponto é que em Atos 2 houve louvor em línguas seguido de pregação, o que edificou a todos.
Em Corinto só havia línguas, e (quase) nada que edificasse.

>> 1Co 14:6 E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitarei, se vos não falar ou por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?

Por isso que tenho dito que o problema de Corinto não era que se ouvia pessoas falando em línguas no culto.
O problema de Corinto era que se ocupava boa parte do culto para falar em línguas para a igreja, tornando o culto pouco edificante ou talvez até sem edificação alguma.

"Em suas conclusões disse que adorar em língua é diferente de entregar uma mensagem em língua. Onde o sr. viu isto em 1 Co 14? (...) Então, é impossível que 1 Co 14 o que esteja em questão é língua dirigida ao público, porque ela nunca é dirigida ao público, no sentido de ser uma mensagem para o público. É sempre para Deus."

Mano, Paulo diz que quando uma língua é interpretada ela tem o mesmo efeito de profecia...
>> 1Co 14:5 Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação.

Ou seja, uma língua interpretada é edificante assim como a profecia.

A língua em geral é dirigida a Deus.
Mas quando Deus quer falar com alguém ele levanta um intérprete e a pessoa que fala em línguas transmite uma mensagem que é interpretada para o idioma local. Essa mensagem é dirigida para a pessoa e não a Deus.

Olhe um caso de línguas onde era falado uma mensagem para as pessoas:
Atos 2:11: Nós os ouvimos em nossas línguas, falar das maravilhas de Deus.

A propósito: vc já presenciou interpretação de línguas? É maravilhoso! Certa vez estava num culto onde Deus nos deu uma mensagem em línguas que ia sendo interpretada e foi tremendo.

Cleber disse...

Continua...

<>

É exatamente nisso que creio.
O detalhe é que o verso 27 refere-se a falar diante da igreja.
No verso 28 libera-se que no culto seja falado em particular com Deus.
É isso que muita gente não entende.

Paulo deixa claro que ao falar para a igreja toda era preferível que fosse no idioma local:
1Co 14:19 Todavia na igreja eu antes quero falar cinco palavras com o meu entendimento, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua.

Preste atenção no contraste desse verso:
"na igreja eu quero falar" em línguas
x
"na igreja eu quero falar" com entendimento para instruir a outros

Fica claro que Paulo estava abordando o caso de falar diante da igreja, e não em particular no culto.
Se é para falar diante da igreja toda que seja em idioma local para edificar.

Nós pentecostais concordamos com Paulo.
Não usamos o púlpito para falar em línguas diante da igreja.
Falamos línguas no culto, mas em particular, normalmente durante momentos de oração e louvor.

Em amor,
Cleber.

Anderson Cruz disse...

Paz irmão, muito bom a análise, sou pentecostal, mas me deparei com comentarios cessacionistas e antipentecostais e quase esfriei na fé, como lidar com esses comentários que em vez de edificar, destrói.

Muito obrigado, aguardo a resposta.

Cleber disse...

Anderson,
lhe dou duas sugestões úteis:

1-Busque aprofundar-se na teologia pentecostal.
Existem ótimas teologias sistemáticas disponíveis, como a do Stanley Horton e a obra Teologia Sistemática Pentecostal da CPAD (com vários autores brasileiros).
Outros recursos úteis são o "Comentário Bíblico Pentecostal" e a Bíblia de Estudo Pentecostal, ambos da CPAD.
Tbm existe material interessante de linha metodista e wesleyana.

2-Evite alimentar-se em sites e livros reformados/calvinistas. Se sua dieta espiritual for baseada nesse material vai gerar muitas dúvidas, pois frequentemente eles questionam práticas pentecostais devido à tradição que seguem.

(Leio sites calvinistas eventualmente, mas poucas vezes acho útil já que normalmente criticam tudo e todos).