quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Línguas sem Interpretação - Visões

Línguas sem Interpretação:
Visão Reformada x Visão Pentecostal

Com o surgimento dos reformados carismáticos muitos teólogos pentecostais passaram a adotar a posição reformada. Mas se olharmos para a Rua Azusa e o surgimento do pentecostalismo veremos que o padrão pentecostal nunca foi limitar a adoração em línguas no culto. (Leia mais aqui).

Para os pentecostais em 1Co14 Paulo trata do problema de dirigir o culto em línguas estranhas.

Mas atualmente muitos teólogos pentecostais assumem que em Corinto o apóstolo Paulo teria proibido que se falasse em línguas no culto sem que houvesse interpretação. Esse ponto de vista é a visão reformada. Nesse caso os pentecostais estariam fora do padrão apostólico por falarem em línguas num momento de oração culto. Mas se o entendimento for esse temos outro problema: as regras de 1Co14.27-31 não foram usadas em nenhum dos casos registrados em Atos (caps 2, 10 e 19).

Pentecostais e Reformados concordam que em Corinto havia uma supervalorização do dom de línguas. O que discordam é sobre a aplicação das regras prescritas por Paulo:
- para pentecostais Paulo proibiu que o culto fosse dirigido em línguas estranhas (ter pessoas falando em línguas à igreja sem interpretação), mas não proibiu a adoração particular em línguas no culto.
- para os reformados Paulo proibiu o uso completo do dom de línguas no culto, permitindo apenas quando houver interpretação.

Se temos passagens em Atos (caps 2, 10 e 19) de pessoas falando em línguas livremente (sem interpretação) não se pode concluir que em 1Co14 isso seria proibido. É preciso fazer uma interpretação que concorde com o restante da Bíblia.

A posição reformada é restritiva porque muitos pastores aceitaram os dons por honestidade teológica consigo mesmos, mas nunca o experimentaram. Outros experimentam, mas continuam presos ao discurso reformado de que Atos não serve como base para doutrinas. Alguns justificam a ausência de dons em seus cultos como sendo questão de "ordem e decência".

Por tudo isso, fico com a posição pentecostal: não podemos dirigir o culto em línguas, mas podemos adorar a Deus em línguas estranhas num momento do culto. O uso do dom não está proibido, apenas 'orientado' por uma questão de ordem e decência.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Cleber,
em primeiro lugar: parabéns! Conheci este blog pentecostal através do blog reformado "O tempora, o mores", onde vc comentou o artigo do Dr Augusto sobre seminário e fé.
Apesar de ser um simpatizante da teologia reformada no que diz respeito à exaltação de Cristo, não concordo com a doutrina da predestinação fatalista na soteriologia e com o anticarismatismo. Faz-se uma acrobacia hermeneutica para restringir os dons miraculosos ao primeiro século ou aos apóstolos, ou no melhor caso, os dons são apenas abordados de maneira teologica sem implicações práticas. Assim já chegamos ao seu tema sobre "linguas sem interpretação"
Creio que 1a.Cor.14 é local e geral. Uma pessoa que fala em línguas de púlpito ou dirigindo-se à uma outra pessoa ou grupo de pessoas, deve ser interpretada. Isto fica claro no contexto do texto bíblico.
Agora, não há problema nenhum, se a pessoa durante um culto público, por exemplo durante a oração comunitária ou momento de louvor, dirigir-se a Deus falando em línguas. A pessoa está se relacionando com Deus e não com outras pessoas. Esta prática sempre terá meu apoio e incentivo.
Abraço,
Matias

Cleber disse...

Matias,
primeiramente obrigado pela visita!

Realmente não faz sentido "teologizar" sobre os dons e não vivenciar isso. Eu tenho impressão de que os dons vem sendo desprezado nas igrejas (mesmo algumas que se dizem pentecostais ou carismáticas).

Tenho uma opinião muito parecida com a sua sobre o uso do dom de línguas.
;-)

Um abraço!

Cleber.

Unknown disse...

Grande Cléber, a paz!

É necessário esclarecer que a pneumatologia que aceito não tem nenhuma influencia de presbiterianos ou outros cristãos reformados. Os autores que mais admiro, em relação à pneumatologia são pentecostais, como Stanley M. Horton, Anthony D. Palma, Donald C. Stamps, Roger Stronstad, William M. Menzies e Gordon Fee. Todos, sem exceção, são pertencentes à Assembléia de Deus e o Stronstad é pastor na Igreja de Deus em Cristo (também pentecostal clássica). Acho um grande desperdício que esses autores não sejam mais explorados e lidos no Brasil, tanto pelos pentecostais, como pelos críticos do pentecostalismo.
Quando leio I Co 14, como lentes pentecostais (rsrsrs), não consigo ter a mesma interpretação do seu texto anterior, mas me aproximo desse último texto. Em tempo escreverei um texto no meu blog sobre I CO 12 ao 14.
Abs!

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Cleber disse...

Gutierres,
Cá entre nós, teologicamente prefiro a Assembléia do que a Igreja de Deus em Cristo.
;-)
Ei, o que me chama atenção nisso que vc falou é que é comum os pentecostais interessados em teologia lerem autores reformados, mas o inverso não é comum.